domingo, 29 de agosto de 2021

Andy Warhol e a Produção Musical Contemporânea


 

Sessenta anos atrás, o mundo da música era bem diferente do que é hoje.

A gravação era analógica, em fitas magnéticas multicanais. O meio físico era o disco, compacto ou LP, cuja produção era um tanto cara e complexa, realizada por prensagem da massa plástica contra matrizes  produzidas por processo de galvanoplastia.

Assim, por exigir investimento relativamente alto, a produção e a distribuição aconteciam através das gravadoras, empresas constituídas especificamente para este objetivo. Quem quisesse ouvir música em casa, tinha duas alternativas: rádio e TV, onde ouviria o que fosse veiculado pela emissora (ouvinte passivo), ou ir a uma loja e comprar um disco de seu artista favorito (ouvinte ativo).

A semente da mudança foi lançada nesta época, com a chegada das fitas magnéticas para uso doméstico. Nelas, era possível gravar um programa de rádio ou o conteúdo de um disco, ou mesmo montar um álbum particular com fonogramas de diferentes discos e programas de rádio. As fitas e seu aparelho de gravação/reprodução foram diminuindo de tamanho e de preço, em crescente popularização. Mas a pirataria de fonogramas ainda não assustava as gravadoras, que seguiam de vento em popa lucrando com a venda dos discos produzidos. Eram pouquíssimos os artistas que dispunham de capital para se aventurar em uma produção independente.

A evolução prosseguiu com a digitalização e a chegada do CD. Maior capacidade de armazenagem de dados, o que poderia significar mais músicas por unidade ou maior fidelidade na reprodução, o que não foi tão explorado, mas, sobretudo, menores custos de produção. Com isso, aumentou significativamente o número de artistas produtores de seus próprios conteúdos, mas as gravadoras ainda seguiam soberanas.

Para elas, o incômodo chegou com a Internet e os microcomputadores, CDs graváveis e pendrives. Apesar das tentativas, já não havia como controlar a pirataria de fonogramas. As lojas de discos desapareceram, e as gravadoras precisaram adotar novas estratégias para sobreviver, seja trabalhando também como editoras, seja como agentes dos artistas contratados. A distribuição começou a migrar dos CDs para as plataformas de áudio (Spotify, Deezer etc) e para os sites de Internet, e assim chegamos aos tempos atuais.

Hoje, os custos da produção e distribuição de um fonograma caíram a tal ponto que qualquer artista tem condições de produzir e distribuir sua própria obra, se assim o desejar. Artistas que não seriam produzidos há sessenta anos atrás hoje se produzem e estão disponíveis para serem ouvidos, e é aí que surge o artista plástico norte-americano Andy Warhol, que no ano de 1968 enxergou tudo isso que estava por vir e declarou sua famosa frase profética: "No futuro, todos serão famosos por 15 minutos".

Será mesmo? Depois desta necessária introdução, exploraremos um pouco mais este tema nas nossas próximas postagens. Até lá!