A VELHA QUESTÃO ENTRE O ERUDITO E O POPULAR
Hoje cedo, ouvindo O Sol de Maiakovski, do álbum "A Canção Brasileira" (The Brazilian Classical Songs) composição para piano e voz do maestro e compositor Gilberto Mendes, entrei mais uma vez em pensamentos sobre a distinção entre música erudita e música popular.
Se perguntarmos sobre a natureza desta música a quem quer que tenha ouvido o fonograma, a resposta com certeza será de que é obra erudita. Por quê? Qual seria o motivo que nos faz classificar desta forma?
Um primeiro ponto e talvez o mais importante seja a empostação da voz da cantora (Kátia Guedes), que é totalmente operística. Se ouvíssemos a mesma música com a mesma pianista Evelyn Ulex, porém substituindo a Kátia por uma cantora de mpb assim como a Tiê ou a Céu talvez já conseguíssemos algumas opiniões diferentes.
Por outro lado, se tivéssemos pedido ao falecido maestro Gilberto Mendes para escrever um arranjo para a música Cais, de Mílton Nascimento e Ronaldo Bastos, e chamássemos a Kátia Guedes para cantar, acredito que teríamos um fonograma que todos considerariam erudito.
Talvez uma outra questão importante sobre a distinção entre o erudito e o popular seja o ritmo. Não tenho conhecimento de nenhuma obra erudita que utilize bateria, elas usam percussões individuais, todas com as devidas partituras. E na maioria das obras eruditas, não há um ritmo definido, embora existam exceções, tais como o bolero de Ravel, por exemplo.
Tudo isto surge no limiar de um novo lançamento, Canção da Menina Triste. O arranjo é de piano, bandoneón e cello, voz da Bruna Caram. Não utilizamos bateria, nem percussão. A harmonia desta música é a mais complexa entre todas as minhas composições até hoje. Talvez seja um Sol de Maiakovski com empostação de voz popular, como na experiência proposta acima. Vejamos o que você, leitor, dirá sobre ela. De qualquer forma, erudito ou popular, fiquei feliz com o fonograma. E se mais uma pessoa gostar, já terá valido a pena.
Abraços a todos!
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