domingo, 25 de julho de 2021

Os LPs Voltarão Um Dia?


    Um assunto recorrente nos estúdios, entre cafezinhos e gravações, é a volta dos LPs.

    Na última sessão, estávamos eu, o Alexandre (Fontanetti) e a Bruna (Caram). Como sempre, a nostalgia de um produto que era um pouco mais do que mera reunião de doze ou treze fonogramas, mas um projeto audiovisual com arte gráfica e um propósito. Não como um punhado de fotos esparramadas em uma caixa de sapatos, mas como um álbum de fotos que a gente organiza de alguma forma, por época, por lugar, por evento...

    Da mesma forma, os LPs foram também chamados de álbuns, e os fonogramas tinham algum elo entre si. Quanto veio o CD, trouxe a vantagem tecnológica de um produto fisicamente mais resistente e, ao menos teoricamente, com som de melhor qualidade, além da enorme redução nos custos de fabricação. A ideia de álbum, contudo, ainda estava mantida, bem como a arte gráfica, esta menos significativa em relação aos LPs devido ao tamanho reduzido.

    Mas já brotaram ali sinais do enfraquecimento deste conceito. Lembro que no finalzinho de 2017, quando foi lançado o CD Novo Rumo - Glau Piva Canta Caetano Júnior, recebemos de um crítico o comentário (negativo) de que quem ouvisse isoladamente qualquer um daqueles fonogramas saberia que era daquele CD. Na ocasião, encaramos como elogio, a prova de que o trabalho de alinhavar dois estilos tão diferentes como o da Glau e o meu em um trabalho homogêneo como o CD Novo Rumo fora bem sucedido e que tínhamos ali um álbum, não uma coletânea (coletânea é o LP ou CD formado por fonogramas extraídos de diversos outros LPs/CDs).

    E o que temos hoje? Vejo como uma volta ao tempo dos 78 rpms, onde se lançava uma música de cada vez (o lado B servia apenas como contrapeso, as gravadoras nunca lançavam dois sucessos em um mesmo disco, a menos que por descuido; por que vender somente um disco quando se poderiam vender dois?). Estamos na era dos singles, fonogramas lançados individualmente que podem ou não ser oportunamente reunidos em um álbum com distribuição, cada vez mais, apenas digital.

    A Bruna disse que os LPs hão de voltar um dia, o Alexandre acredita na revalorização do conceito de álbum. Eu pela minha parte não me arrisco a apostar. Vejo outro destino, a associação da música à imagem por meio dos clipes, conceito que na minha opinião veio para ficar. Mas isto já é assunto para outra postagem.

    (Aos visitantes: comentários serão sempre bem-vindos, concordando ou discordando, a ideia deste blog é criar um espaço democrático de discussão e debate; afinal, como dizem, toda unanimidade é burra!)


terça-feira, 13 de julho de 2021

Dia Mundial do Rock


 

Hoje, 13 de julho, o mundo comemora o Dia do Rock!

O gênero nasceu nos E.U.A., a partir basicamente do blues e do country, no final dos anos 40. Tinha uma batida própria que com o tempo foi-se ampliando e diversificando, e a formação privilegiava os instrumentos elétricos, como guitarra, baixo, e, mais recentemente, teclado.

Decorridos mais de 70 anos, a evolução foi tornando difícil distinguir o que é rock e o que não é. Eu da minha parte, em um critério muito pessoal, considero como rock as músicas marcadas com pouca ou nenhuma síncope (deslocamento dos tempos fortes dos compassos) e uso predominante de instrumentos elétricos. Nesta forma de pensar, nem todos os grupos e compositores de rock fazem ou fizeram somente rock, como seria o caso dos Beatles e muitos outros.

Aqui no Brasil, considero que o fortalecimento do rock se deu nos anos 80 e 90, após o iê-iê-iê (uma forma restrita de rock, na minha visão). Nestas décadas surgiram vários grupos e compositores importantes, que inclusive fizeram o gênero caminhar de encontro à MPB, de modo que me arrisco a dizer que temos inúmeras canções que são ao mesmo tempo rock e MPB, mesmo porque não há limites precisos entre os dois gêneros. Quanta MPB não rolou nos Rock In Rio!

Nunca considerei importante a classificação das músicas em gêneros, é algo que para mim só tem justificativa didática, quando o aluno começa a estudar música e precisa de referências. Então me sinto no direito de comemorar este Dia do Rock na condição de compositor (Novo Dia seria meu "rock" mais "puro", dentro da MPB temperada com rock que foi o CD Novo Rumo). Feliz Dia do Rock a todos os roqueiros e quase-roqueiros do Brasil e do mundo!  


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Um Pouco de Idade Média


 

Na nossa penúltima postagem, fizemos homenagem ao monge Guido d'Arezzo, idealizador da notação musical como a conhecemos hoje, com pautas, claves e notas, no século XI, coração da Idade Média.

 Algumas pessoas me perguntaram como seria antes disso. Até onde eu sei, seria de um modo muito semelhante ao que se faz ainda hoje, quando não há folha pautada disponível nem tempo para escrever a partitura.

Acima, um exemplo prático e real. A anotação é da Bruna Caram, no estúdio, preparando-se para gravar a guia de uma música inédita de minha autoria, Canção da Menina Triste. Eu havia esquecido em casa a partitura para a voz e já ia voltando para buscá-la, mas a Bruna disse que eu não me preocupasse, não seria necessário. Ela então escreveu rapidamente o rascunho acima para se orientar, onde, junto com a letra da música, traçou uma linha indicando o movimento da melodia e assinalou quando preciso as sílabas fortes (primeiro tempo dos compassos).

Com isso, a guia pôde ser gravada sem problemas. Mas temos que lembrar que a Bruna já havia ouvido a música na minha gravação doméstica (em termos técnicos, chamamos registro inicial: é uma gravação, geralmente feita em telefone celular, onde o compositor canta a música acompanhado de violão ou piano, para apresentá-la ao intérprete e ao produtor) e mesmo ensaiado a voz em casa. Então, o rascunho funcionou para ela como lembrete, mas não serviria para orientar a quem nunca tivesse ouvido a melodia antes.

Assim devia ser nos tempos anteriores ao Guido d'Arezzo. Nada que permitisse transmitir a música com exatidão a quem já não a conhecesse antes, somente lembretes que músicos e intérpretes utilizavam como auxílio à memória.

Grande abraço a todos! Valeu, Bruna!


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Os Discos 78 rpm Ainda Vivem


 

O ano era 2013, e eu planejava aquele que seria meu primeiro CD, o Pele Morena e Azul, na voz da Larissa Cavalcanti.

O projeto  de um CD sempre começa com a chamada pré-produção. Escolhido o repertório, ou seja, as músicas que serão gravadas, o próximo passo é definir tonalidades, andamentos e a apresentação da música, sendo que por apresentação refiro-me ao tempo e formato da introdução, de um possível solo instrumental e número de repetições dos temas, o que vai refletir no tempo total de execução da música.

As minhas propostas iniciais muitas vezes levaram a tempos de execução bem superiores a quatro minutos, chegando muitas vezes a ultrapassar cinco minutos. Foi quando me disseram que fonogramas com tempo superior a quatro minutos não eram recomendáveis, por serem tidos como não-radiofônicos, ou seja, normalmente não tocam no rádio.

E não tocam mesmo, com raras exceções. O rádio gosta de fonogramas entre três e três e meio minutos, e eu então ajustei os tempos das músicas para que se situassem dentro desta faixa, tanto quanto possível.

E por que isto? Foi Ruy Castro, em seu excelente livro A Onda Que Se Ergueu no Mar, quem me trouxe a resposta, que está nos discos de 78 rpm. Eram estes os discos existentes na origem no rádio, e não se conseguia neles gravar mais de quatro minutos em um lado sem inviabilizar a qualidade do som na reprodução. Nos casos excepcionais, como em algumas peças eruditas, a única solução era aumentar o diâmetro dos discos, que nestes casos poderia chegar a 30 cm, 5 cm além do diâmetro usual, que era de 25 cm. Em música popular, isto simplesmente não se justificava.

Os discos 78 rpm terminaram em 1970, mas esta influência no rádio permaneceu até os dias atuais. Tenho ultimamente produzido fonogramas com tempos bem superiores: Pescador e Magnitudes têm mais de sete minutos, e Conquista, que deverá ser lançada ainda este mês, tem seis. Assim como quem já conhece tão bem as regras que pode cogitar infringi-las de vez em quando. Os resultados, o tempo trará.

Grande abraço a todos!


sábado, 3 de julho de 2021

O Dia Mais Importante da História da Música


 Vamos prestar nesta postagem uma homenagem a todos os que contribuíram para o desenvolvimento da notação musical, sem a qual não teríamos música tal como a conhecemos hoje.

Assim como o desenvolvimento da escrita foi fundamental para a transmissão do conhecimento humano a distâncias geográficas e temporais, também na música isto aconteceu. Se não existisse um sistema de escrita musical, nossa música estaria hoje resumida a canções folclóricas transmitidas no boca-a-boca através das gerações e em sua grande maioria restritas à sua região de origem.

Neste sentido, a notação musical é mais eficiente do que a escrita, pois é universal. Recentemente, utilizei orquestra de cordas em uma das minhas produções (Pescador, cantada pela Ná Ozzetti), e as cordas foram gravadas em São Petersburgo, na Rússia. Os músicos russos que tocaram não sabem português, assim como eu não sei russo, de forma que não poderíamos conversar em palavras, mas conseguimos perfeitamente conversar em música; ou seja, bastou enviar para eles as partituras para que executassem sem nenhum problema a composição.

Devemos o sistema de notação musical utilizado hoje, com pautas, claves e notas, principalmente ao monge Guido d'Arezzo, no início do século XI d.C. Antes dele, as tentativas de desenvolvimento de uma forma de escrita musical não permitiam que se representasse com precisão as alturas e durações das notas. O sistema tonal com sete notas fundamentais já era conhecido, mas foi Guido d'Arezzo quem criou os nomes das notas pelas quais são hoje conhecidas (dó, ré, mi, fá, sol, lá e si), extraídas  das sílabas iniciais de um hino a São João Batista. Antes, as notas eram representadas por letras de A a G, representação que sobreviveu na Harmonia, como representação de acordes.

Há ainda hoje vários músicos profissionais que não sabem ler música e parecem não sentir falta disto, assim como há ainda cidadãos analfabetos que vivem perfeitamente na sociedade. Mas se alguém me perguntar se vale a pena estudar música, eu responderei que ao menos a notação musical deve ser aprendida por todos os que quiserem trabalhar na área.


quinta-feira, 1 de julho de 2021

Apresentação: Falando Um Pouco Sobre Mim


 Como primeira postagem após a inauguração do blog, achei interessante falar um pouco sobre mim e as experiências que vivi no meio musical.

Meu pai sempre gostou muito de música. Tocava piano e estudava a história da MPB, adquiria todo livro publicado sobre o assunto e fazia inúmeras anotações, mas não chegou a escrever para nenhum jornal ou revista, e nem tocar profissionalmente. Minha mãe também sabia tocar piano, embora preferisse a pintura, e desta forma cresci em um ambiente artisticamente muito rico.

Por volta dos onze anos de idade, comecei a estudar piano com uma professora particular, D. Isolina, em Santos, minha cidade natal. Com ela aprendi a ler partituras e tive as primeiras noções de teoria musical. Em seguida, veio o primeiro Conservatório, o Henrique Oswald; depois o segundo, o Santa Cecília, e o terceiro, o Beethoven, sempre em Santos. Todos foram importantes na minha formação, mas naquela época os Conservatórios só ensinavam o piano erudito, e por isso posteriormente a eles tive aulas particulares com um grande professor de música popular e pianista, o Prof. Marino Pece. Suas aulas foram para mim um divisor de águas. Com ele aprendi cifragens, complementei os conhecimentos de teoria musical, harmonia e contraponto e comecei a escrever arranjos cifrados para as músicas que queria tocar. Isto foi, de certa forma, como tomar aulas com os grandes mestres da MPB: Tom Jobim, Ivan Lins, Milton Nascimento, Francis Hime, Noel Rosa, Pixinguinha, Ari Barroso, Caetano Veloso e tantos outros.

Nesta época, comecei a tocar fora de casa, fazendo participações em bares com música ao vivo que tinham piano. Tirei carteira profissional na Ordem dos Músicos, e por incrível que seja, minha estréia como profissional não foi em Santos, nem em São Paulo (já fazia o curso de engenharia na USP), mas em Belém do Pará, onde fui a passeio e acabei contratado para duas noites em um restaurante com música ao vivo.

Em Santos, eu e mais quatro amigos (Marcos Lobão, Maria Cecília, Wania e Edu) formamos um pequeno conjunto para tocar nos finais de semana, e foi a primeira vez em que acompanhei uma cantora (Maria Cecília) ao piano. Tempos de deliciosa juventude para todos nós!

Também por esta época, comecei a compor. Sempre letra e música juntas, nunca me senti capaz de colocar letra em uma canção pronta ou música em uma letra concluída. Navegava também nos mares da poesia e da prosa, embora meu primeiro livro de ficção só fosse publicado muitos anos mais tarde.

Assim foi o princípio. Aventuras maiores viriam somente bem depois, quando comecei a realizar o que então eram somente sonhos.