segunda-feira, 5 de julho de 2021

Os Discos 78 rpm Ainda Vivem


 

O ano era 2013, e eu planejava aquele que seria meu primeiro CD, o Pele Morena e Azul, na voz da Larissa Cavalcanti.

O projeto  de um CD sempre começa com a chamada pré-produção. Escolhido o repertório, ou seja, as músicas que serão gravadas, o próximo passo é definir tonalidades, andamentos e a apresentação da música, sendo que por apresentação refiro-me ao tempo e formato da introdução, de um possível solo instrumental e número de repetições dos temas, o que vai refletir no tempo total de execução da música.

As minhas propostas iniciais muitas vezes levaram a tempos de execução bem superiores a quatro minutos, chegando muitas vezes a ultrapassar cinco minutos. Foi quando me disseram que fonogramas com tempo superior a quatro minutos não eram recomendáveis, por serem tidos como não-radiofônicos, ou seja, normalmente não tocam no rádio.

E não tocam mesmo, com raras exceções. O rádio gosta de fonogramas entre três e três e meio minutos, e eu então ajustei os tempos das músicas para que se situassem dentro desta faixa, tanto quanto possível.

E por que isto? Foi Ruy Castro, em seu excelente livro A Onda Que Se Ergueu no Mar, quem me trouxe a resposta, que está nos discos de 78 rpm. Eram estes os discos existentes na origem no rádio, e não se conseguia neles gravar mais de quatro minutos em um lado sem inviabilizar a qualidade do som na reprodução. Nos casos excepcionais, como em algumas peças eruditas, a única solução era aumentar o diâmetro dos discos, que nestes casos poderia chegar a 30 cm, 5 cm além do diâmetro usual, que era de 25 cm. Em música popular, isto simplesmente não se justificava.

Os discos 78 rpm terminaram em 1970, mas esta influência no rádio permaneceu até os dias atuais. Tenho ultimamente produzido fonogramas com tempos bem superiores: Pescador e Magnitudes têm mais de sete minutos, e Conquista, que deverá ser lançada ainda este mês, tem seis. Assim como quem já conhece tão bem as regras que pode cogitar infringi-las de vez em quando. Os resultados, o tempo trará.

Grande abraço a todos!


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